HRC - Honda
A Entrada nas Competições Internacionais: Isle of Man TT e a Primeira Conquista (1959-1965)
A entrada da Honda no mundo das competições de motociclismo começou em 1959, quando a marca decidiu competir pela primeira vez no exigente e perigoso Isle of Man Tourist Trophy (TT). Esta foi a primeira vez que um fabricante japonês se atreveu a desafiar as potências europeias num dos eventos mais prestigiados e difíceis do calendário – e do mundo. A Honda inscreveu-se na classe de 125 cc, mas o objectivo principal não era apenas vencer, mas sim aprender e ganhar experiência a nível internacional.
O resultado não trouxe vitórias imediatas, mas a equipa impressionou o mundo pela sua abordagem profissional e pela qualidade técnica das suas motos. Apenas dois anos depois, em 1961, a Honda obteve as suas primeiras vitórias no Isle of Man TT, com o piloto britânico Mike Hailwood a vencer nas categorias de 125 cc e 250 cc. Estas vitórias marcaram a entrada da Honda no panteão dos grandes fabricantes de motos de competição, rompendo a hegemonia europeia que até então dominava as corridas.
Domínio nas Pequenas Cilindradas e a Inovação nas 250 cc e 500 cc (1966-1970)
Após as vitórias iniciais, a Honda continuou a crescer nos Grandes Prémios, especialmente nas classes de 125 cc e 250 cc, onde a sua engenharia de ponta e insistência em motores de quatro tempos se destacaram. A marca optou por uma abordagem de alta rotação para compensar a menor potência que os motores de quatro tempos ofereciam em relação aos de dois tempos, que na época estavam a ganhar popularidade.
A Honda RC143, uma moto de 125 cc com um motor de quatro cilindros, foi uma das máquinas mais inovadoras deste período. O seu design permitia rotações altíssimas, algo incomum para a época, o que conferia uma vantagem em pista. No entanto, à medida que a competição na categoria de 500 cc se tornava mais feroz, a Honda teve de ajustar a sua abordagem na competição.
A Criação da NR500 e a Necessidade de Adaptação (1970-1982)
Durante os anos 70, a Honda enfrentou novos desafios nas competições de 500 cc, a categoria rainha do mundial de velocidade. Os motores de dois tempos começaram a dominar as temporadas, com as suas motos mais leves e mais potentes, algo que contrariava a filosofia da Honda, que se mantinha fiel aos motores a quatro tempos.
Determinada a provar que os motores a quatro tempos podiam ser competitivos, a Honda desenvolveu a NR500, uma moto revolucionária equipada com um motor de pistões ovais, lançada em 1979. A NR500 era um projeto extremamente ambicioso, que pretendia combinar a potência dos dois tempos com a durabilidade e eficiência dos quatro tempos. Contudo, apesar do conceito inovador, a NR500 revelou-se difícil de pilotar, afinar e não obteve os resultados esperados em corrida, enfrentando problemas técnicos e dificuldades para competir contra os ágeis motores a dois tempos.
Este insucesso técnico obrigou a Honda a reconsiderar a sua estratégia e, em 1982, a marca decidiu entrar também no mundo dos motores a dois tempos com a introdução da nova NS500.
O Sucesso com a NS500 e o Primeiro Campeonato Mundial de Freddie Spencer (1983)
A NS500, lançada em 1982, marcou uma viragem na abordagem da Honda à competição. Esta moto, equipada com um motor a dois tempos de três cilindros, foi projectada para competir de igual para igual com as principais rivais na época, que utilizavam exclusivamente motores a dois tempos. A NS500 era leve, ágil e potente, características que rapidamente se traduziram em resultados em pista.
Em 1983, o talentoso piloto norte-americano Freddie Spencer, aos comandos da NS500, conquistou o seu primeiro título mundial na categoria de 500 cc, tornando-se o mais jovem campeão de sempre na altura. Esta vitória foi um marco histórico para a Honda, pois provou que a marca podia ser competitiva na classe rainha, mesmo utilizando uma tecnologia baseada nos motores a dois tempos.
A Introdução da NSR500 e o Período de Domínio (1984-2001)
Depois do sucesso inicial com a NS500, a Honda continuou a evoluir as suas motos de corrida, introduzindo a NSR500 em 1984. Esta moto, equipada com um motor de quatro cilindros a dois tempos, seria uma das mais bem-sucedidas da história do motociclismo de competição, dominando os Grandes Prémios de 500 cc durante quase duas décadas.
A NSR500 foi responsável por inúmeros campeonatos mundiais, com pilotos lendários como Wayne Gardner, Mick Doohan e Alex Crivillé a conquistarem títulos nas décadas 80 e 90. Doohan, em particular, destacou-se como um dos maiores pilotos da história da categoria, vencendo cinco títulos consecutivos entre 1994 e 1998, sempre aos comandos da mítica NSR500.
A Honda manteve a sua posição dominante nas competições até ao fim da era dos motores a dois tempos, quando as regras do MotoGP mudaram para permitir motores de quatro tempos até 990 cc, a partir de 2002.
A Revolução da RC211V e o Domínio na Era MotoGP (2002-2010)
Com a transição para o MotoGP em 2002, a Honda respondeu à mudança regulamentar com a introdução da RC211V, uma moto equipada com um motor V5 de 990 cc, que marcou o início de uma nova era no MotoGP. A RC211V foi projetada com tecnologias de ponta, incluindo sofisticados sistemas electrónicos de controlo de tração e mapeamento de motor, tornando-a uma das motos mais avançadas e competitivas da sua geração.
Sob a pilotagem do icónico Valentino Rossi, a RC211V dominou as duas primeiras temporadas da nova era do MotoGP, com o piloto italiano a conquistar os títulos mundiais em 2002 e 2003. A moto era famosa pela sua potência, estabilidade em curva e capacidade de aceleração, factores que a tornaram imbatível nas pistas. O sucesso da RC211V consolidou a posição da Honda como a equipa a ser batida no novo formato, MotoGP.
Após a saída de Valentino Rossi para a Yamaha, a Honda continuou a competir ao mais alto nível, com pilotos como Nicky Hayden a conquistar o título em 2006, e a marca a desenvolver sucessores da RC211V, como a RC212V, que foi utilizada durante o período de 2007 a 2011.
Marc Márquez e a Dominação com a RC213V (2013-2024)
A partir de 2013, a história da Honda no MotoGP foi marcada pela ascensão de Marc Márquez, um jovem e talentoso piloto espanhol que rapidamente se tornou num dos maiores nomes do motociclismo mundial. Márquez estreou-se na categoria principal com a RC213V, uma evolução das motos anteriores, e conquistou o campeonato mundial logo no seu ano de estreia, tornando-se o mais jovem campeão de sempre na história da MotoGP.
A RC213V, com o seu motor V4 de 1000 cc, continuou a ser uma das motos mais avançadas tecnologicamente, com melhorias constantes em termos de electrónica, aerodinâmica e comportamento em pista. A combinação do talento de Márquez e da engenharia de ponta da Honda resultou numa série de sucessos avassaladores. Márquez conquistou seis títulos mundiais em 2013, 2014, 2016, 2017, 2018 e 2019, consolidando a sua posição como um dos maiores pilotos na história da Honda e do MotoGP.
Apesar de alguns desafios e lesões sofridas por Márquez em anos recentes, a Honda manteve-se como uma das forças dominantes no MotoGP até 2024, continuando a desenvolver a RC213V para enfrentar a crescente concorrência e as novas regulamentações técnicas da categoria.
A Honda nas Corridas até 2024
Desde a sua entrada nas competições internacionais no final dos anos 50, a Honda tem sido sinónimo de inovação e excelência nas pistas em todo o mundo. Com uma trajectória marcada por marcos históricos, como a introdução da NSR500 e o domínio de Mick Doohan, até à revolução da RC211V e a era de Marc Márquez, a Honda estabeleceu-se como uma das maiores e mais bem-sucedidas marcas na história do motociclismo de competição.
Em 2024, a Honda continua a ser uma referência no MotoGP, uma prova da sua capacidade em se adaptar, inovar e manter-se competitiva num dos desportos motorizados mais exigentes e rápidos do mundo. A marca permanece comprometida em escrever novos capítulos de glória, sempre à procura do próximo grande avanço tecnológico e desportivo.
Fotos: Honda Pro Racing