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Arte Mecânica – Edi Buffon

ARTE MECÂNICA: Gilera Extra Rossa 175 de Edi Buffon

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Estamos constantemente surpreendidos com as habilidades de alguns fabricantes que trabalham fora do expediente: pessoas que têm empregos em tempo integral, mas que passam as noites e fins de semana a fabricar motos do nível esperado numa oficina profissional. 
Um dos mais talentos construtores a ‘part-time’ é Edi Buffon, engenheiro nativo de Sydney, Austrália. Adorámos a sua Kawasaki KZ250 de 2020, mas ele destacou-se ainda mais com esta magnífica ‘bobber’ Gilera. 
Edi pilota e modifica veículos de duas rodas há 20 anos, mas foi somente há quatro anos que a construção de motos se tornou um ‘hobby’ sério. “O objectivo é transformá-lo na minha principal fonte de receita”, admite, “mas ainda estou a trabalhar nesse sonho”. 
Não há muitas Gilera na Austrália – ou mesmo fora de Itália. Quando esta máquina foi construída em 1957, a Gilera estava no topo da sua reputação nas corridas, com vários troféus do Campeonato do Mundo em exposição na fábrica. As suas motos de estrada eram caras em comparação a muitas outras, originalmente com 125 cc e gradualmente ampliando a sua gama até aos 175 cc. 
“Eu estava à procura de um novo projecto e encontrei uma Extra Rossa 175 de 1957 no eBay”, conta Edi. Após ver o motor, tive que fazer a compra!”. O vendedor morava perto de Edi e descobriu que tinha dois motores, as rodas e outras peças por um preço muito bom. 
 Edi trabalha sozinho num pequeno espaço de oficina partilhado. Não tinha uma ideia prévia do ‘design’ até o pequeno modelo italiano chegar à sua porta, mas adora o estilo dos quadros rígidos e sabia que poderia montar um motor funcional baseado nos dois encontrados no eBay. 
 O primeiro trabalho foi adquirir um carburador compatível em Barcelona e uma ignição electrónica alemã. “O custo destes componentes foi maior do que os dois motores e rodas da compra original!”. Edi desmontou as rodas de 19 polegadas e enviou para a pintura e acabamento em cor dourada. Depois de recolocadas, foram montados pneus de terra estilo ‘trail’ clássicos da marca Mitas. 
 Depois, colocou o motor (inacabado) e as rodas na sua bancada, mediu a distância entre eixos que funcionaria e começou a construir uma moto. Ele fez uma haste de direcção, prendeu-a ao quadro e ajustou o ‘rake’ (ângulo) em 28 graus. 
 A construção do quadro de tipo tubular foi o passo seguinte, feito de aço macio laminado a frio. “Gostei da aparência da combinação original de quadro e motor, então fabriquei suportes de motor semelhantes”, diz Edi. “À medida que a estrutura avançava, começou a parecer uma moto de subida de montanha em estilo “vintage”, deixei a construção seguir sua própria direcção.” 
Na frente da moto, Edi optou por uma configuração de dupla mola. “Gosto de suspensões de estilo clássico ‘vintage’ pela estética e gosto de misturar latão – por isso todos os espaçadores das rodas são em latão. A parte mais difícil da frente da moto foi ajustar os ângulos. Assim que acertei com os valores, ficou óbvio que era necessário um amortecedor. Então, criei um sistema de fricção ‘vintage’ com algum aço inoxidável e funcionou muito bem. 
Os avanços e os terminais de suspensão também são feitos em aço-carbono, incluindo a porca autoblocante superior – que Edi criou cortando e triturando o material redondo num hexágono.
Assim que a estrutura estava completa, começou a trabalhar no depósito com a prensa e rolo, iniciando depois o fabrico do pára-lama, desta vez usando aço-carbono de 1,2 mm. O tanque é simples e está muito longe do estilo original dos anos 50. Tanto o tanque como o pára-lama são revestidos a pó com acabamento texturizado em preto, e o assento tem um ‘design’ de pivô simples – depois cromado e estofado. 
 
Edi decidiu colocar uma embraiagem de pé/mudança de mão para a Gilera. “Um processo simples: fiz alguns apoios para os pés da embraiagem e do travão e, de seguida, dobrei à mão um pouco de aço para a articulação e o selector seguirem as linhas do quadro”, confessou. 
Para o travão traseiro, Edi construiu uma configuração de eixo secundário que funciona a partir da transmissão primária – que ele reconhece ser “para estética, e não para função/eficiência. Eu mantive tudo simples e usei o accionamento por cabo para combinar com a embraiagem.” 
O escape é literalmente feito de restos que Edi tinha por ali, mas seria difícil dizer com o quê ao certo. Depois de várias horas de polimento para remover todas as soldas visíveis, foi revestido com pó de cerâmica preta e parece impecável! 
Peças menos óbvias resultaram de horas de tratamento – incluindo eixos, espaçadores, braço-oscilante e até mesmo os avanços. A maioria dessas peças foi cromada, mas o quadro possui um revestimento em pó cerâmico polido. 
O motor é uma combinação dos dois motores que Edi recebeu, com o ‘kickstarter’ removido, “Para arrancar o motor é preciso um rolo ou uma subida íngreme!” 
 
O esforço valeria a pena. A Gilera de Edi é um magnífico exemplo de arte mecânica, apesar de ter sido construída com tempo e recursos limitados, como conseguiu mesmo concluir um projeto deste? “Eu dobro um tubo e vejo o que acontece”, concluíu. 
 
Texto – Chris Hunter 
Fotos – Ana Martini 

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