Back to the top

George Vukmanovich

George Vukmanovich

Raízes Simples, Destino Grandioso

Nascido numa pequena aldeia dos Balcãs, George Vukmanovich cresceu rodeado por natureza, silêncio… e motores enferrujados. O pai era ferreiro, mas a verdadeira paixão de Vukmanovich sempre foi o som dos motores a dois tempos. Com apenas 11 anos, desmontou a sua primeira motorizada um velho modelo soviético e montou-a novamente sem sobrar uma única peça. Foi aí que nasceu o seu fascínio pela mecânica de precisão.
Sem acesso a formação técnica formal, aprendeu com revistas antigas, rádios a válvulas e motores quebrados. Aos 18 anos, já era conhecido nas redondezas como “o miúdo que faz motores andar melhor que novos”. Foi essa reputação que o levou a integrar uma pequena equipa regional de motocross. E foi aí que tudo começou.

Da Oficina à Competição
Durante a década de 1980, o mundo do motociclismo vivia uma transição técnica marcada pelo avanço das eletrónicas e pelo uso de novos materiais. Vukmanovich, autodidata incansável, foi um dos primeiros mecânicos a compreender que a sensibilidade humana ainda tinha um papel decisivo, mesmo na era das máquinas digitais.
Trabalhou em várias equipas privadas na Jugoslávia e depois, com a abertura das fronteiras, passou a colaborar com estruturas italianas em campeonatos europeus de velocidade. A sua fama cresceu graças à sua habilidade única de afinar motores de forma quase intuitiva, a partir apenas do som e da vibração. Muitos pilotos juravam que ele “ouvia o motor a falar”.

A Entrada no Mundial 

O grande salto deu-se no início da década de 1990, quando Vukmanovich foi recrutado pela histórica equipa Cagiva, que na altura procurava fazer frente aos gigantes japoneses no Campeonato do Mundo de 500cc. Inicialmente, entrou como consultor técnico para motores de dois tempos, mas rapidamente se tornou figura central na preparação das motos de competição. 

Trabalhou lado a lado com nomes lendários, como John Kocinski e Eddie Lawson, e ajudou a desenvolver a mítica Cagiva C594, uma das motos mais belas e complexas da sua era. A moto era potente, mas temperamental, e poucos conseguiam extrair o seu verdadeiro potencial. Vukmanovich era um desses poucos. A sua capacidade de encontrar o ponto de equilíbrio entre potência e fiabilidade tornou-se essencial para os sucessos pontuais da equipa italiana.

Filosofia de Trabalho: Ouvir, Sentir, Ajustar
Ao contrário de muitos engenheiros modernos, Vukmanovich sempre recusou depender exclusivamente de computadores. Para ele, o motor era quase um organismo vivo, e cada máquina tinha personalidade própria. Recorria a instrumentos, claro, mas priorizava o instinto e a escuta. Fazia testes com o motor a quente, observava a cor da vela, a vibração do guiador, o cheiro do escape.
Ajustava carburadores, válvulas de escape, embraiagens e caixas de velocidades com uma precisão artesanal. Cada mota preparada por ele era única, pensada de raiz para o estilo do piloto. “Uma mota rápida não basta”, dizia. “Ela tem de conversar com quem a monta”.

Anos de Ouro e Reconhecimento
Durante o período em que esteve ligado à Cagiva e, mais tarde, à Suzuki, Vukmanovich teve participação direta em múltiplos pódios e desempenhos notáveis. Embora as suas equipas nem sempre lutassem pelo título, os especialistas do paddock sabiam: se havia uma mota bem afinada, provavelmente tinha passado pelas mãos dele.
Em 1996, quando passou a integrar a equipa técnica da Suzuki no Mundial de 250cc, desenvolveu soluções inovadoras de refrigeração e aproveitamento de gases, antecipando conceitos que só se tornariam norma anos depois. Ganhou o respeito de engenheiros japoneses e italianos, sendo frequentemente consultado por equipas rivais para resolver problemas críticos.
Apesar disso, manteve sempre um perfil discreto. Evitava entrevistas e raramente aparecia nas fotos oficiais. “Quem deve brilhar são os pilotos”, dizia com um sorriso tímido. Mas dentro do paddock, todos sabiam que sem ele, muitas vitórias nunca teriam sido possíveis.

Mentor de uma Nova Geração
Com o virar do milénio e o fim da era dos motores a dois tempos, Vukmanovich decidiu afastar-se progressivamente da competição ao mais alto nível. Não por falta de capacidade, mas por respeito à evolução natural do desporto. “Estas novas máquinas são maravilhosas, mas falta-lhes alma”, dizia sobre as MotoGP a quatro tempos.
Ainda assim, não abandonou o motociclismo. Pelo contrário: dedicou-se à formação de novos mecânicos e preparadores, ensinando em centros técnicos na Europa de Leste e colaborando com projetos de base ligados à Federação Internacional de Motociclismo (FIM). Muitos dos atuais chefes de mecânicos em Moto2 e Moto3 passaram pelas suas mãos.

A sua escola de pensamento, sensibilidade mecânica aliada ao conhecimento empírico permanece viva nas boxes de muitos circuitos europeus.

Legado Imortal
Hoje, já longe da ribalta, George Vukmanovich vive numa quinta nos arredores de Rijeka, onde continua a desmontar motores antigos por puro prazer. Ainda recebe telefonemas de pilotos veteranos, engenheiros e amigos do paddock que lhe pedem conselhos. E por vezes, quando visita discretamente o paddock de uma corrida, ouve-se um murmúrio: “Olha, ali está o mestre.”
A sua contribuição para o motociclismo não se resume a vitórias ou troféus. Vukmanovich representa uma forma de viver a competição com paixão, humildade e inteligência mecânica. O seu nome talvez não conste dos livros de recordes, mas para quem vive o Mundial por dentro, é sinónimo de excelência. 

Burgess e Vukmanovich

burgess-vukmanovich

Motorcycle Legends - Logo Branco

Contactos : geral@legendsofmotorcycles.pt
© Copyright 2025. All Rights Reserved.

7inch.2025