A Kawasaki W650

A Kawasaki W650 é uma daquelas motos que consegue juntar o melhor de dois mundos: o charme intemporal das clássicas britânicas dos anos 60 e a fiabilidade mecânica que só uma marca japonesa como a Kawasaki consegue garantir. Lançada em 1999, esta máquina chegou ao mercado como uma lufada de ar fresco para os apaixonados por motos vintage, numa altura em que o segmento retro ainda estava longe de ser uma moda como é hoje.
Inspirada nas lendárias Triumph Bonneville, a W650 é uma homenagem direta às linhas elegantes e simples de uma época dourada do motociclismo. O seu motor bicilíndrico paralelo de 676cc, com arrefecimento a ar e uma configuração de 360º, é um verdadeiro tributo às clássicas. Mas o que a torna realmente especial é a árvore de cames à cabeça acionada por veio e engrenagens, também conhecido como ‘bevel-drive shaft’, uma característica raríssima nos tempos modernos, que lhe confere não só um visual marcante, como também um som único e cativante.
Esteticamente, a W650 é um verdadeiro regalo para os olhos. O depósito tem uma forma de gota com pintura bicolor e listas pintadas à mão, as jantes são raiadas, os escapes longos e cromados emitem um som profundo e redondo, o farol é redondo, os guarda-lamas são em metal e o assento plano segue o estilo tradicional. Tudo nesta moto transmite autenticidade. Mas apesar de parecer uma peça de coleção, a W650 é feita para ser conduzida, e muito bem.
Em estrada, surpreende pela suavidade. O motor tem um comportamento previsível e linear, ideal para passeios descontraídos por estradas secundárias ou até deslocações diárias. A posição de condução é cómoda e relaxada, com um guiador largo e comandos acessíveis, o que facilita muito a interação com a moto. A ciclística é simples, mas bem equilibrada, com uma suspensão convencional à frente e dois amortecedores atrás que cumprem bem o seu papel, enquanto os travões, com disco na frente e tambor atrás nos primeiros modelos, garantem uma travagem segura, ainda que sem as ajudas modernas a que hoje muitos estão habituados.
O prazer de conduzir a W650 não está na performance bruta ou na velocidade máxima, mas sim na sua entrega honesta, no som mecânico puro, na sensação de ligação entre o condutor e a máquina. É uma moto que convida a desacelerar, a apreciar a viagem e a estrada, como se fosse uma extensão do próprio corpo. Cada curva, cada mudança de velocidade, cada aceleração suave é um lembrete de que nem todas as experiências precisam de ser rápidas ou digitais para serem inesquecíveis.
Produzida entre 1999 e 2007, a Kawasaki manteve a W650 em produção até ser substituída pela W800, que trouxe algumas atualizações como a injeção eletrónica e adaptações às normas de emissões. No entanto, muitos entusiastas consideram que a W650 mantém um espírito mais puro, mais fiel às raízes do motociclismo clássico, e por isso, tornou-se quase uma peça de culto no meio das motos vintage modernas.
As suas especificações técnicas reforçam esta identidade. O motor bicilíndrico de 676cc com árvore de cames acionada por veio é o centro da experiência. Alimentado por dois carburadores Keihin, debita cerca de 50 cavalos às 7000 rotações por minuto, com um binário generoso de 56Nm às 5500. A caixa tem cinco velocidades e a transmissão final é por corrente. A suspensão dianteira é composta por uma forquilha telescópica de 39 mm, enquanto atrás encontramos dois amortecedores ajustáveis. A travagem fica a cargo de um disco de 300 mm à frente com pinça de dois pistões e de um tambor traseiro de 160 mm. Tudo isto resulta num peso em ordem de marcha a rondar os 195 quilos, com uma altura do assento de cerca de 800 mm e um depósito de combustível com capacidade para 15 litros.
Para além dos dados técnicos, a W650 é uma moto cheia de curiosidades interessantes. Uma das mais fascinantes é precisamente o sistema de veio e engrenagem para a árvore de cames, um detalhe técnico herdado das corridas de outros tempos, que hoje em dia raramente se vê pela sua complexidade e custo. O design foi elaborado com atenção ao pormenor, desde as listas pintadas à mão até às proporções fiéis às motos britânicas clássicas. Isto tornou a W650 uma base muito procurada para personalizações no estilo café racer, scrambler ou bobber, já que o seu visual limpo e o motor carismático se prestam bem a todo o tipo de transformações.
Embora seja uma moto japonesa, a W650 teve grande aceitação na Europa, nomeadamente na Alemanha, França e Reino Unido, onde os motociclistas apreciam muito o equilíbrio entre nostalgia visual e robustez mecânica. Para além disso, o seu comportamento dócil e a entrega de potência linear tornam-na uma excelente escolha para quem se inicia no mundo das duas rodas clássicas, ou simplesmente para quem quer uma moto relaxada, bonita e cheia de alma.
A Kawasaki W650 não é uma moto que impressiona pelas cifras ou pela inovação tecnológica. Impressiona pelo que transmite: elegância, história, autenticidade e prazer de condução puro. É uma homenagem viva às raízes do motociclismo, feita com amor, precisão e um profundo respeito pelo passado. Conduzi-la é mais do que andar de moto, é viver uma experiência.