

Introdução
Marcelo Leite sempre sonhou alto. Desde pequeno, a sua paixão por aventuras levava-o a explorar cada recanto do seu bairro, fosse de bicicleta ou a pé. Mas foi na adolescência, ao ver documentários de grandes viajantes, que nasceu o desejo de conquistar o mundo… sobre duas rodas.
Com uma moto robusta e espírito indomável, Marcelo decidiu deixar para trás a rotina para embarcar numa expedição que o levaria por todos os continentes, conhecendo culturas, pessoas e paisagens de cortar a respiração. Esta é a história da sua jornada.
A Preparação: Sonho e Realidade
Antes de colocar a moto a rolar, Marcelo passou meses a preparar-se. Comprou mapas, leu relatos de outros motociclistas e planificou cuidadosamente cada etapa. A moto — uma trail potente e fiável — foi equipada com malas laterais, ferramentas, filtros de combustível e até uma pequena tenda.
Financiar a viagem foi outro desafio: Marcelo juntou poupanças, vendeu o carro e organizou eventos para angariar fundos. Fez parcerias com marcas de equipamentos de motociclismo que acreditaram no seu sonho.
O primeiro teste foi a saída de Lisboa até ao Cabo Norte, na Noruega, onde enfrentou neve, frio e longos dias de condução solitária. Esse “ensaio geral” serviu para ajustar a bagagem e testar a sua resistência mental e física.
Europa: Das Montanhas aos Balcãs
A primeira grande etapa começou oficialmente em Lisboa, seguindo para leste. Passou por Espanha, França, Suíça e Itália, onde as estradas alpinas o deixaram sem fôlego. Dormia em parques de campismo, pousadas e até em casas de locais que, curiosos com o seu projeto, ofereciam-lhe abrigo.
Nos Balcãs, Marcelo deparou-se com um calor escaldante e estradas esburacadas, mas também com uma hospitalidade desarmante. Na Bósnia, foi convidado para jantar com uma família que o acolheu como se fosse da casa. Foi ali que percebeu que, mais do que paisagens, a expedição seria marcada pelas pessoas que encontraria.
Ásia: Estradas Infinitas e Hospitalidade
Depois de atravessar a Turquia e a Geórgia, Marcelo chegou ao Cazaquistão e à vastidão da Ásia Central. Estradas de terra, lama e travessias de rios tornaram-se rotina. Numa pequena aldeia no Quirguistão, Marcelo ficou sem combustível e foi ajudado por um pastor que lhe ofereceu combustível improvisado — e chá quente — numa tenda improvisada.
Na Mongólia, a mota ficou atolada numa tempestade de lama. Foram precisas horas e a ajuda de três jovens nómadas para a desatolar. “Ali aprendi que a solidariedade não tem língua, religião ou nacionalidade”, escreveu Marcelo no seu diário.
Austrália: Solidão no Deserto
O transporte da moto para a Austrália foi uma etapa complexa. Marcelo enviou a moto de barco a partir da China e voou até Sydney para a reaver. O país-continente trouxe desafios inesperados: longas distâncias, postos de combustível escassos e uma solidão que às vezes pesava.
No deserto de Simpson, Marcelo sentiu medo pela primeira vez. A temperatura atingiu os 45 graus, a água começou a escassear e a areia enterrava as rodas da moto com frequência. Mas a experiência transformou-o: “Naquele vazio, descobri a minha força interior.”
América: Do Gelo do Alasca ao Fervor Latino
Do outro lado do Pacífico, Marcelo começou pelo Alasca. As estradas geladas e o frio cortante testaram-lhe a coragem. Ainda assim, a emoção de ver ursos e glaciares ao vivo compensou cada dificuldade.
Descendo pela costa oeste do Canadá e dos Estados Unidos, Marcelo maravilhou-se com as florestas e parques naturais. Cruzou o México e seguiu pela América Central, onde o calor e a burocracia fronteiriça lhe roubaram dias inteiros. Mas foi na América do Sul que Marcelo se apaixonou pela cultura vibrante, pela música e pela comida.
No Peru, a altitude de Cusco trouxe-lhe dores de cabeça, mas também a vista inesquecível de Machu Picchu. Na Argentina, perdeu-se no deserto da Patagónia e encontrou refúgio na solidariedade de outros motociclistas que cruzavam o continente.
África: O Grande Desafio
De Buenos Aires, Marcelo enviou a moto para a Cidade do Cabo, na África do Sul. África era o derradeiro teste: estradas de terra, burocracias complexas e desafios logísticos. Mas também foi o continente onde mais se sentiu vivo.
Na Namíbia, a travessia das dunas levou a moto ao limite. Em Angola, Marcelo encontrou crianças que, de sorriso rasgado, lhe ofereceram água e fruta. Na Etiópia, uma tempestade obrigou-o a parar numa aldeia remota, onde foi recebido como herói.
No norte de África, o calor escaldante e as tempestades de areia fizeram-no repensar a viagem várias vezes. Mas, como sempre, a hospitalidade das pessoas e a beleza das paisagens reerguiam o seu ânimo.
Regresso a Casa: Uma Nova Perspetiva
Após quase três anos na estrada, Marcelo regressou a Lisboa com a moto marcada pelas poeiras do mundo. Encontrou-se diferente: mais humilde, mais tolerante e mais consciente da sorte que tem por ter nascido num país em paz.
“Aprendi que a estrada é uma escola como nenhuma outra”, escreveu no seu último diário de viagem. “A moto foi a minha companheira fiel, mas foram as pessoas, os sorrisos e as histórias que me transformaram.”
Conclusão
A expedição de Marcelo Leite não foi apenas uma viagem de moto: foi uma jornada interior. Através de estradas de asfalto, terra e lama, conheceu não só o mundo, mas também a si próprio. Descobriu que o verdadeiro motor da viagem são as pessoas e que a aventura está sempre à espera, basta ter coragem para arrancar.