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Recordes do Mundo de Velocidade FIM

Em busca da glória 

O Salar de Uyuni, na Bolívia, recebeu mais uma sessão de tentativa de recordes do mundo de velocidade de curta distância. Estabeleceram-se novos recordes, alguns em condições peculiares. 

Texto: Vítor Martins
Fotos: FIM/Jean Turner 

A busca pela velocidade existe desde os primórdios do Homem. E assim que apareceram os primeiros veículos motorizados foram muitos os que quiseram poder gabar-se de ser os mais velozes do mundo. 
As motos não são exceção e logo em 1903 – 18 anos após o aparecimento daquela que é considerada a primeira moto com motor de combustão interna, a Daimler Reitwagen e 9 anos após a primeira moto de produção em série, a Hildebrand & Wolfmüller – o americano Glenn Hammond Curtiss estabeleceu o primeiro recorde de velocidade com uma moto por si construída. 

Estávamos em 1903, e Curtiss, usando um dos seus motores V2 de 1000 cc de aviação, chegou aos 103 km/h. Entretanto, Henri Cissac, com um V2 de 1489 cc, em 1905, chegou aos 140 km/h.
Em 1907, agora com um motor V8 – com uns impressionantes 4000 cc montado naquilo que era basicamente uma bicicleta -, Curtiss mais do que duplicou a sua velocidade atingida em 1903, atingindo os 219 km/h.   

Foi um feito de relevo porque, naquela altura, Glenn Curtiss tornou-se no homem mais rápido ao cimo da terra. Conseguiu ser mais rápido do que os comboios (211 km/h), os carros (205 km/h) e até os aviões, que naquela época estavam também na sua infância, e os pioneiros irmãos Wright só ainda tinham chegado aos 60 km/h. 

Porém, havia uma questão de credibilidade, pois não bastava a alguém gabar-se que tinha atingido uma determinada velocidade. 
Por isso, as tentativas de recorde começaram a ser sancionadas por entidades idóneas, e a Federação Internacional de Motociclismo, nascida em 1904, certificou oficialmente os primeiros recordes de velocidade em 1920.
Esse primeiro recorde foi estabelecido por outro americano, Gene Walker – que foi 19 vezes campeão americano de flat track antes de morrer num acidente em 1924. Walker levou uma Indian de 994 cc aos 166 km/h, ou seja, bem abaixo da velocidade atingida por Curtiss, cujo recorde só viria a ser oficialmente batido em 1930. O autor do feito foi Joseph S. Wright que com uma OEC (Osborn Engineering Company) com motor JAP de 994 cc chegou aos 220,99 km/h.

Ao longo dos anos foram estabelecendo-se critérios e tipos de recordes e em que condições podiam ser obtidos, e as motos começaram a ser classificadas em categorias, grupos, divisões, tipos (modo de propulsão e tipo de combustível) e classes.
Hoje as velocidades atingidas por Curtiss e Wright são facilmente superadas por normais motos de produção de venda ao público. No entanto, os recordes também não pararam de ser batidos, e atualmente o homem mais veloz do mundo em duas rodas é Rocky Robinson que com a sua Ack Attack, em 2010, em Bonneville, chegou aos 605,697 km/h. 

A sua ‘moto’ está equipada com dois motores Suzuki Hayabusa sobre-alimentados que, em conjunto, superam os 1000 cv de potência… 

Porém não foi este tipo de recorde que foi perseguido em agosto em Uyuni. Ali os ases da velocidade buscaram recordes de curta distância, ou seja, ¼ de milha, milha e quilómetro, em que é calculada a velocidade média das duas passagens, ida e vinda, que têm que ser feitas num período limite de duas horas.
O Salar de Uyuni, na Bolívia, é o maior lago salgado do mundo, com uma área de mais de 10 mil quilómetros quadrados e também aquele que está a maior altitude, a 3656 metros acima do do nível do mar. 

As equipas tiveram quatro dias para dar o seu melhor, e os recordes foram batidos precisamente no último dia. 

O primeiro foi para Jamie Williams, com uma velocidade média de 216 km/h no quilómetro e 204 km/h na milha. A sua moto, tal como tantas outras que procuram recordes, é pouco convencional. A MTT até parece uma normal desportiva, um pouco mais longa, mas está equipada com uma turbina Rolls Royce M250 (que equipa helicópteros como o Bell JetRanger, entre outros), com 420 cavalos de potência. 
Apesar de na sua visita a Uyuni levar dois recordes em seu nome, não esteve livre de problemas técnicos: «Em ambas as tentativas o motor calou-se, porque entrou em sobre-rotação. Foi por isso que deslizei no final de ambas as tentativas. Mas os números são os números, certo? É um começo», disse Williams.
Sabendo que podiam melhorar o registo se o motor funcionasse durante todo o percurso, a equipa trabalhou na moto para resolver o problema, e ainda voltou à pista no final do dia. Chegaram aos 289 km/h na ida, mas não houve tempo para regressar, pelo que o novo valor não pôde ser validado. 

Mike Garcia bateu o recorde pertencente a Richard Assen, que teve um acidente no primeiro dia e não pôde continuar. Com uma moto parcialmente carenada, ou parcialmente ‘streamlined’ (ou seja, o piloto não está dentro duma cápsula e é visível lateralmente sentado em cima da sua moto), com motor Suzuki Hayabusa de 1350 cc turbo, chegou aos 427 km/h de média no quilómetro e 426 km/h na milha. 

Garcia bateu o recorde que Richard Assen tinha estabelecido há 12 anos, mas quis o destino que a equipa de Assen desempenhasse um papel importante no novo recorde: o veículo de apoio da Sims avariou e ele não tinham como colocar a moto de Garcia na pista, e foi a equipa de Assen que veio em seu auxílio. «Nem consigo colocar em palavras. Estou tão agradecido pela ajuda que tivemos», declarou Mike Garcia. «A sua equipa tornou-se na minha equipa. Eles rebocaram o nosso veículo, e não o teríamos feito sem eles. Eu estava a tentar bater o recorde do Richard e ele disse-lhes para me dizerem ‘força nisso’ e para me desejar boa sorte. Não lhes posso agradecer o suficiente, e gostava que ele estivesse aqui. Ainda bem que ele está bem. É maravilhoso, nunca pensei chegar a esta velocidade! Tenho que agradecer a toda a gente. E, Richard, tens que vir tentar recuperá-lo. É tudo o que posso dizer», disse Garcia, que há 10 anos tentava superar os 402 km/h. 

Menos bem sucedido foi Rocky Robinson, que sofreu com bastantes problemas na sua Ack Attack, um monstro totalmente carenado de mais de 1000 cv, 6,5 metros de comprimento e 907 kg. 

Apenas conseguiu fazer uma tentativa, com 486 km/h de média, pelo que não teve qualquer tentativa validada. Os problemas incluíram não conseguir manter-se a direito em pista, devido à falta das rodas laterais de apoio, o que complicou os arranques, fazendo-o mudar inadvertidamente de direção. «Não tínhamos os trens laterais que sobem e descem. Falharam e tivemos que arrancar com eles em cima. Isso torna o arranque muito difícil [ndr.: nesta o moto o piloto está dentro do veículo], porque a moto começa a querer inclinar e mudar de direção. Na minha primeira tentativa, virei à esquerda, saí da pista e fiz apenas 50 metros», explicou Robinson, que voltou a sair de pista na tentativa que logrou superar os 480 km/h: «Embora estivesse fora da rota, consegui manobrar e endireitar a moto, saltar por cima da berma que delimita a pista e consegui continuar e fazer os 486 km/h. Foi divertido, a pista estava impecável e a moto portou-se muito bem, só que não estava a conseguir chegar à potência que normalmente atinge». 

Também Al Lamb passou por problemas com a sua Honda CBR 1000, a Big Red, e acabou por ficar sem tempo para conseguir tentativas válidas. 

Apesar das condições ideais do Salar de Uyuni para os recordes de velocidade, graças aos 24 km de pista perfeitamente plana, as dificuldades logísticas de levar todo o material para aquele local recôndito da América do Sul levanta dúvidas se este evento se repetirá no futuro
Entretanto, Bonneville, nos Estados Unidos, devia ter recebido as míticas Bonneville Motorcycle Speed Trials no final de Agosto, mas o evento teve que ser cancelado, pelo segundo ano consecutivo. A chuva na sequência do furacão Hilary deixaram os desertos salgados do Utah completamente encharcados, não oferecendo as condições mínimas necessárias para os participantes. 

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